Partire è un pó morire, dice l’adagio, ma è meglio partire che morire.”

(Carrara, na peça teatral Merica, Merica)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

TECELÃS ITALIANAS GERAM NOVA GREVE

Tecelãs no início do século 20 (Imagem: Google)


A Revolução Industrial trouxe o progresso mas também a exploração da mão-de-obra num sistema capitalisa onde a produção em série importava mais que o bem-estar dos operários. Seus direitos trabalhsistas foram  conquistados gradativamente. Em São Roque não foi diferente. A redução da jornada de trabalho de mais de dez horas diárias e outros direitos vieram sob a pressão das greves.

Si vamos trabalhar, o salário reduzido não nos chega para a má alimentação, quanto mais para o aluguel de casa, vestuário, etc, si não vamos, chamam-nos de vadios, desordeiros e tudo por querermos aquillo a que temos direito, isto é, boa remuneração pelo nosso trabalho honesto. Esta é a verdade. Não mentimos. Pese a nossa situação sr. Redactor e verá si temos ou não razão.”

Esse desabafo das tecelãs, em sua maioria, de origem italiana, encerrava a matéria publicada no jornal O Sãoroquense  de 12 de dezembro de 1909 sobre a nova greve iniciada por operárias da maior tecelagem de São Roque.

MELHORES CONDIÇÕES DE TRABALHO

A jornada de trabalho de doze horas, das seis da manhã às seis da tarde, e os baixos salários eram os principais problemas enfrentados pelas operárias tecelãs da fábrica de tecidos “Ítalo-Americana”, como então era chamada.

A esses problemas, hoje tidos como trabalhistas, aliavam-se outros, alegados pelas tecelãs.

Eram eles a má qualidade dos fios fornecidos para o tecido, podres e mal preparados, talvez por falta de conhecimentos technicos de quem dirige as sessões preparatórias, como afirmava o jornal.

Quando nos são dados dois teares e se no seu funccionamento arrebenta-se o fio de um emquanto se vae emendal-o, muita vez parte-se (o fio) do outro que pára e assim o tecelão leva a maior parte do tempo a emendar fios sem resistência devida.”, diziam ainda os tecelãos ao jornal, acrescentando que tinham de “comprar uma escova, uma coberta para o tear, uma pinça e um pente, cujas despesas vem reduzir ainda mais o nosso já minguado salário.

Palavra de Cambronne

Como as reclamações fossem constantes ao diretor da fábrica, sr. Pichetti, os operários comentavam que, quando afirmavam que o salário mal dava para sua alimentação, o diretor mandava-os alimentarem-se com aquilo que representa a célebre phrase de Cambronne.

Pedro Cambronne, segundo a história oficial, foi o general francês que comandou um dos últimos quadrados da guarda imperial durante a Batalha de Waterloo. Cercado de todos os lados, viu-se intimidado pelo inimigo. Forçado a render-se, respondeu com uma simples palavra de cinco letras Merde! que depois veio a ser conhecida como palavra de Cambronne.

Era com isso que Pichetti, o diretor da tecelagem Ítalo-Americana de São Roque, mandava seus operários alimentarem-se, segundo o jornal O Sãoroquense, em 1909.

Com base nesses fatos pode-se inferir que as condições em que viviam os operários italianos em São Roque eram geradas por seus próprios conterrâneos, diretores, acionistas e altos funcionários da tecelagem, numa reprodução do sistema capitalista.

PEÇAS DEFEITUOSAS, O ESTOPIM

Mas, o estopim da paralisação dos teares da fábrica, em 2 de dezembro de 1909, foi a forma grosseira, segundo os operários, com que o diretor Pichetti deixou de receber as tecelãs em seu escritório, por duas vezes, após ter recusado algumas peças de tecidos com defeitos na confecção.

A reclamação das operárias sobre a má qualidade dos fios e o pedido de aumento de salário por terem de trabalhar com material de difícil manipulação sequer foram ouvidos por Pichetti. As tecelãs afirmavam que mesmo aquelles que fossem caprichosos não ganhariam nem a diária de um mil réis”. O grupo de reclamantes aumentou e, em solidariedade às operárias, todos os tecelões se declararam em greve.

FÁBRICA FECHADA, ANUNCIA O APITO

Autoritário, Pichetti dirigiu-se à sala dos teares e intimou os tecelões a colocarem novamente seus teares em funcionamento, dentro de cinco minutos, sob pena de ver a fábrica fechada.
Como não houvesse resposta dos operários, o italiano Pichetti, qualificado por tecelãs como muito exigente e pelo redator do jornal O Sãoroquense como inabalável em suas resoluções, fechou a tecelagem. Não sem antes mandar tocar o apito da fábrica de tecidos.

Reunidos na sede da Sociedade de Mútuo Socorro, os operários grevistas pretendiam reivindicar um aumento de salário para compensar a dificuldade de trabalho com os fios considerados inadequados.
Com todos os teares parados, a direção da tecelagem “Ítalo-Americana”, fechada parcialmente, considera os grevistas como demissionários e resolve despedi-los. O pagamento dos salários devidos é imediato, assim como a contratação de novos tecelões. 

O valor do salário a ser pago aos novos operários é comunicado em cartaz previamente colocado na portaria da fábrica, talvez como forma de garantir que não houvesse reclamações posteriores.
Essa decisão da direção da tecelagem, redigida em italiano, é afixada no portão da fábrica com o titulo:

 AVVISO”

“Considerando che gli operai tessitori abbandonarono spontaneamente il loro lavoro il giorno due corrente e non essendosi piú presentati, quantunque le Stabilimento lavorasse regolarmente, questa Direzione li considera come demissionari e conseguentemente comunica loro che sono tutti licenziati.
Il pagamento dei loro averi sará fatto oggi stesso dalle ore 4 alle 4 ½ pomeridiane.
Contemporaneamente questa direzione avvisa che a comenciare da oggi stesso dalle ore 1 1/12 pomeridiane in poi si aprira l’iscrizione del nuovo personale tessitore.
La tariffa que vigorara nello Stabilimento é visibile in portineria, afinque che glie operai que volessero iscriversi ne possano prender visione.
S.Roque, 11 Dicembre 1909.

La Direzione


Análise de composição de tecido produzido na Brasital 1938



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Um comentário:

  1. Ótimo post!!
    Ainda bem que o encontrei novamente pois não há mais referencias...
    Obrigada!

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