Partire è un pó morire, dice l’adagio, ma è meglio partire che morire.”

(Carrara, na peça teatral Merica, Merica)

domingo, 19 de junho de 2011

Família italiana despede-se do filho

Bilhete de embarque de Luigi Poloni

Um misto de amor e medo levaram o casal Felício Poloni e Clementina Tofanello a incentivar seu filho a embarcar no navio Principessa Giovanna em 18 de dezembro de 1930

O motivo? Proteger o jovem da instabilidade política e social que sacudia a Itália. A Primeira Grande Guerra deixara marcas indeléveis e eles haviam presenciado o sofrimento das famílias de muitos jovens que morreram nos campos de batalha. 

Em seu íntimo, sabiam o que o esperava: uma terra desconhecida e muito trabalho em meio às dificuldades da língua, à falta de amigos e do carinho dos pais. Mas preferiam vê-lo vivo e colocaram todo seu coração na esperança de uma vida melhor para o filho que, na época, ainda não sabiam, mas jamais voltariam a abraçar.
O destino? O Brasil, um país de braços abertos para os italianos.

Na bagagem, apenas roupas, cartas, alguns presentes, sonhos talvez, mas muita expectativa: uma vida fora deixada na Itália e outra estava para nascer no Brasil. 

O final da jornada? A cidade de São Roque, onde as esperanças se concretizariam. 

Eis a cronologia que levaria Luiz Poloni à Terra do Vinho:
Itália, 1931. A insegurança e as conseqüências da devastação causadas pela Primeira Guerra Mundial ainda rondavam a vida e os corações dos italianos. Notícias na imprensa, em todo o mundo, davam conta de que as últimas tropas de aliados retiravam-se da Europa. Mas os contornos do panorama que geraria a Segunda Guerra Mundial já se definiam. O líder fascista Mussolini subira ao poder na Itália, gerando perseguições e instabilidade social. Hitler perdera as eleições para presidente, na Alemanha, mas o nazismo crescia a olhos vistos.

Brasil, 1931. Sob a ditadura de Vargas, milhares de italianos viviam no Brasil. O café enfrentara a crise de 1929, conseqüência da queda na Bolsa de Nova York. Começava a intervenção do Estado na economia e priorizavam-se os financiamentos e subsídios para a indústria.

Porto de Santos, 1931. O italiano Luiz Poloni, 20 anos, lavrador, desembarca no Brasil, proveniente da cidade de Montebelluna, em Treviso. É recebido pela família Pagnan. Seria conduzido, primeiramente, à cidade de Serra Negra e chegaria a uma fazenda onde seus tios residiam. Como lavrador, cultivaria milho, feijão, arroz, uva e café. Seria também jardineiro e trabalharia num curtume, além de ter desenvolvido outras atividades. Mas estaria de certa forma protegido pela colônia italiana. Além das técnicas de enxerto de uva aprendidas na Itália, ele conservaria o amor pela música e a culinária italianas e as alegres reuniões com amigos e parentes. E se apaixonaria por uma jovem de belos olhos azuis...

Serra Negra, 1939. Luiz Poloni casa-se com Maria Joanna Pagnan, sua prima. 

Luigi e Maria Joanna

SÃO ROQUE, 1953. O casal Poloni chega a São Roque com duas filhas.
A esperança? Novas oportunidades de trabalho. Luiz Poloni fora convidado para empregar-se como caseiro na granja da família Ferrari, no Alto da Serra.

O salário? O dobro do que recebia em Serra Negra.

Mas, em pouco tempo é conduzido pelo patrício Cavaglieri à indústria vinícola Cinzano, onde trabalharia no cultivo de uvas para a fabricação de vinho branco de mesa.

SÃO ROQUE, 2005. Luiz Poloni estava para completar 94 anos quando o entrevistei, em 2005 e recebia os cuidados e o carinho das duas filhas. Tinha dois netos e três bisnetos. A beleza e a bondade da esposa já falecida, com quem se casou por amor, nunca foram esquecidas. As fotografias diziam da alegria das festas, dos jantares regados a vinho e embalados por canções da terra natal. 

São Roque foi a terra nostra de Luiz Poloni, a cidade que escolheu para viver há mais de cinqüenta anos, onde viu as filhas crescerem, onde construiu sua moradia e onde exerceu a profissão que aprendeu na Itália. Terra essa na qual pode cultivar a alegria da presença dos muitos amigos que fez. Terra que o fez, no resumo da vida, sentir-se um verdadeiro brasileiro.


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Um comentário:

  1. Estou procurando meus antepassados
    Maria Pagnan casou se com Carlos Merlo, nasceu Julia Merlo que casou com Angelo Mazzuchin em Trevizo, e tiveram sua filha Palmira Mazzuchin em São Manoel do Paraíso SP.

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