Partire è un pó morire, dice l’adagio, ma è meglio partire che morire.”

(Carrara, na peça teatral Merica, Merica)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

LA POVERA GENTE? II


Quando se iniciou a emigração para o Brasil, a higiene nos navios era precária e as doenças contagiosas se disseminavam com facilidade. Como não havia ainda medicamentos para combater muitas das moléstias infecciosas, famílias esperançosas embarcavam no navio em algum porto italiano com onze filhos, por exemplo, e chegavam ao Brasil com apenas cinco deles. Nessa época, o mar sepultou muitas crianças louras, de olhos claros e sorriso curioso e, com elas, uma porção do brilho no olhar de seus pais.

VENETO E PIEMONTE

No Veneto e no Piemonte, devido à pobre dieta à base de polenta, havia o costume de se dar vinho às crianças pequenas, devido à crença de que vino fa sangue – vinho faz sangue. Nas áreas agrícolas da Toscana, principalmente próximas a Prato, era comum, principalmente entre os idosos, viver em pequenas casas de pedra com apenas um cômodo sem janelas.
A pobreza era tão grande nessas regiões e as famílias tinham tantos filhos que, entre comprar remédios para uma criança ou um doente incapacitado para o trabalho, e um bovino, a prioridade era dada ao animal que poderia gerar alimentos para o restante da família.
Nas regiões mais pobres da Itália, a expectativa de vida no final do século 19 era muito baixa e a mortalidade infantil, alarmante.

Piemonte, a pobre região do noroeste da Itália do início do século 20, cujo nome significa ao pé do monte, por estar próxima aos Apeninos e aos Alpes, neste 2011, é um próspero centro industrial, que abriga as fábricas da Fiat, instaladas em Turim, e provoca assim, a migração do sul do país e a imigração de países como o Brasil. É o ponto de partida natural para um passeio turístico pela Itália. Piemonte reivindica o direito de encerrar em si a origem do próprio país. Ali ocorreu um dos mais importantes episódios da unificação da Itália, que envolveu a participação de Giuseppe Garibaldi. De clima continental, é onde se produzem alguns dos melhores vinhos da Itália e atrai milhares de turistas para a belíssima região do Lago Maggiori. De Piemonte vieram para São Roque as famílias Amosso, Collo, Pennone, Picena, Reviglio e outras.

O Veneto, região que sofreu uma considerável diminuição de sua população em função da emigração, destaca-se nos dias de hoje na economia italiana por sua transformação de centro agrícola em centro industrial, com pequenas e médias indústrias de áreas diversificadas, que vão das siderúrgicas às alimentícias. É uma região que abriga belas e prósperas cidades, entre elas a romântica Veneza, e Verona, rica em indústrias, na agricultura e nos monumentos arquitetônicos que remetem ao passado. Do Veneto vieram para São Roque, entre outras, as famílias Bellini, Caetano, Christanello, Mangini, Pascoaloti, Tortato. 

Em menor número, são as famílias de imigrantes italianos radicados em São Roque no século 19, originárias da Campania, Calabria, Emília Romagna, Lombardia, Marche e Sicilia. Vieram de alguma dessas regiões as famílias Bellinghini, Burghi, Brega, Fioravante, Gagliardi, Júdica, Nastri, Tanzi, Valdambrini, Viola entre outras.

TOSCANA

A poverella Toscana do início do século 20, berço da língua italiana, onde se vislumbrou, no passado, toda a influência da civilização etrusca, amante da arte e praticante de técnicas agrícolas avançadas, é rica na beleza da paisagem e nos monumentos artísticos. Sua culinária é diversificada. A capital, Florença, onde nasceu a arte Renascentista, observa um historiador, mostra em suas ruas, ainda hoje, rostos parecidos com os que Da Vinci ou Botticelli pintaram há quinhentos anos. Os toscanos são considerados uma espécie de raça à parte, trabalhadores, severos, mas imaginativos e brincalhões. Da Toscana vieram para São Roque imigrantes das famílias Conti, Maraccini, Pagliai, Salvetti, Tagliassachi, Verani, entre outras.
A pobre Itália de onde partiram os primeiros imigrantes que chegaram a São Roque, é hoje um dos principais países da Europa. A reconstrução no segundo pós-guerra mundial levou o progresso a esse país, que hoje recebe emigrantes de todo o mundo.

Mas, as lições do passado parecem ter sido gravadas no fundo da alma desse povo, tanto que os italianos, os quais em muitas cidades ainda conservam o costume de colocar a mesa na rua e reunir os vizinhos para comer, ainda dizem com a ênfase dos dias difíceis:

- Povera Itália!

Essa é uma de suas expressões preferidas, após uma ótima refeição ao lado de amigos e depois de saborear um delicioso vinho. Em seguida, começam a reclamar dos serviços públicos, do governo, dos correios etc.
Nem eles mesmos poderiam imaginar que sua terra passaria por essa transformação. Os italianos são, atualmente, na Europa, os que melhor se alimentam, têm educação de primeira qualidade, a mortalidade infantil no país é muito pequena e a expectativa de vida aumentou. A Itália supera, em média, a Europa Ocidental em bens de consumo e, embora o sul ainda seja atrasado em relação ao norte do país, essa grande mudança aconteceu em apenas cinqüenta anos.

As histórias que se seguirão narram a trajetória de algumas das primeiras famílias que chegaram a São Roque e seus descendentes ainda permanecem na cidade. Vieram no início da imigração italiana no Brasil, chegaram com a primeira leva de imigrantes, em sua maioria, trazidos oficialmente para trabalhar nas lavouras de café do Estado de São Paulo. Mas muitos não se acostumavam ao rigor das fazendas cafeeiras e partiam para outras cidades. Em São Roque, chegaram principalmente para trabalhar na segunda tecelagem instalada no Brasil, por Enrico Dell"Acqua, o Príncipe Mercacante italiano. Porém, entre eles, havia os que vinham por conta própria, pelo sabor da aventura, para tentar uma nova vida na América e não eram necessariamente agricultores ou operários. Podiam ser comerciantes, profissionais liberais, artistas...


Imagem: Viúva Zecchi, proprietária de hotel no distrito de Mairinque,São Roque, com filhos e sobrinho, década de 1920
(álbum da família Salvestrim)

Este texto tem direitos autorais.
Proibida cópia e reprodução de textos e imagens em qualquer meio.



Nenhum comentário:

Postar um comentário