Partire è un pó morire, dice l’adagio, ma è meglio partire che morire.”

(Carrara, na peça teatral Merica, Merica)

domingo, 29 de maio de 2011

Dos Alpes Apuane

Careggine, na Toscana (fonte: toscana.indettaglio.it)

Careggine é uma bucólica cidadezinha italiana que ainda hoje conserva a aparência medieval, onde a beleza natural descortina antigos monumentos, e abriga em seu território cerca de 260 famílias o que significa uma população de pouco mais de 600 habitantes, plantada no centro dos Alpes Apuane, área montanhosa semelhante aos Alpes Suíços, denominada Garfagnana, que reúne outras pequenas localidades, e é considerada a mais verde da Itália. Os acidentes geográficos que a rodeiam, mantêm sua população um pouco isolada, apesar de estar a apenas 63 km de Lucca, a capital da província, ao noroeste da região Toscana. A economia local sempre se manteve pela prática da agricultura de montanha, a extração de carvão vegetal, em função das florestas e do mármore, já que está próxima a Carrara.

Outra atividade típica da Garfagnana é a “caça” ao cogumelo, planta silvestre. Em certa época do ano, como num ritual, o padre abençoa a população que invade a floresta com seus bastões em busca dos funghi, como são chamados pelos italianos os cogumelos.

UM LUGAR FAMILIAR

Careggine foi o berço da família Salvetti, que imigrou para São Roque onde sua descendência já está na sexta geração neste ano de 2011. A semelhança entre a italiana Careggine e a cidade brasileira do interior paulista está nas paisagens, na altitude e na tradição religiosa.

Na Itália, a cidade de origem dos Salvetti é uma das mais altas da Garfagnana com seus 882 metros e a tradição local destaca a festa de São Pedro e São Paulo, em 19 de julho, comemorada anualmente com cerimônia religiosa e procissão; no Brasil, São Roque tem como maior acidente geográfico o Morro do Saboó, com cerca de 1000 metros e, devido à altitude, o clima local já foi um dos melhores do estado na cura de doenças pulmonares, além de apresentar como sua maior tradição, a festa do padroeiro que deu nome à cidade, uma das mais antigas do interior paulista, realizada em 16 de agosto.

Com tanta semelhança, além do costume europeu de se produzir vinho, que tornaria a cidade brasileira conhecida em todo o território nacional como a Terra do Vinho, os Salvetti logo se sentiram em casa ao pisar o solo da pequena São Roque do final do século 19.

A ARTE DE CULTIVAR CASTANHAS

Na Itália, Luigi Salvetti era agricultor e dedicava-se principalmente ao plantio de batatas, além de cultivar castanha e produzir a farinha de castanha, conhecida na Itália como farina di castagna ou farina di neccio.  Possuía vários sítios em locais diversos da Garfagnana onde era também proprietário de uma estação de esqui. O costume de preparar o prato típico chamado Necci, que leva na receita farinha de castanha, como as massas e bolinhos, a família trouxe para o Brasil. 

Luigi casou-se com Carlotta Franchi quando o primeiro filho do casal já completara três anos. Sendo a moça de família abastada, do centro da localidade Careggine – os Franchi tinham grande influência política na época – e o rapaz, simples agricultor, provavelmente a família de Carlotta teria dificultado a união. Alessio Sabbatino Salvetti, o primogênito do casal, acabou conhecido pelo segundo nome, que recebeu por ter nascido num sabbato, dia 18 de fevereiro de 1871, ano a unificação da Itália, exatamente à meia-noite. Sua personalidade mostrou-se típica do ambiente de montanha da terra natal – sério, quieto, fechado mesmo, mas de uma bondade evidente; sofria de epilepsia e por esse motivo não lhe era permitido exagerar no vinho.

Com a transformação da Itália em país, a cidade de Careggine passou a pertencer à província de Lucca, cujo governo penalizava os agricultores com altos impostos sobre sua produção. Além disso, os pequenos produtores de farinha de castanha tinham que disputar o mercado com os grandes produtores de farinha de trigo da Lombardia. Ao longo do tempo, isso empobreceu a população rural, o que foi o motivo que  provavelmente levou a família Salvetti a deixar seu país. 

Sabbatino Salvetti e Francisco Verani (álbum da família Verani)


CONVITE DE AMIGOS

A escolha do Brasil deve ter sido a convite de amigos que eram da mesma região da Itália e já estavam em São Roque.
Luigi Salvetti desembarcou no porto de Santos, em 1893, com sua mulher Carlota e os filhos Sabbatino, Julio, Isolina, Amélia e Marianna. Chegaram para trabalhar na tecelagem Enrico Dell’Acqua e Cia., inaugurada três anos antes.

Mal pisou o solo brasileiro, o filho Sabbatino começou a cavoucar o chão, já que na Itália diziam que a nova terra era rica em pedras preciosas.
Ao chegar em São Roque, aos 22 anos, Sabbatino foi durante algum tempo funcionário da tecelagem, da qual tempos depois, transformada em Brasital, seu filho José Vittorio seria por muitos anos, um dos diretores.
Após certo tempo, abriu um negócio próprio, um armazém que fornecia principalmente alimentos e cujos fregueses eram em sua maioria, funcionários da estrada de ferro. Esse armazém ficava na rua 7 de setembro e depois mudou-se para a  rua Marechal Deodoro, propriedade vendida há alguns meses e, neste 2011, a Casa Paratodos, que se originou do estabelecimento comercial de Sabbatino Salvetti, mudou-se o bairro do Taboão.

UVAS E VINHOS

A família Salvetti também trouxe da Itália o costume de cultivar uvas e produzir vinho e vinagre para seu próprio consumo. Forneciam uva para adegas de São Roque e, no armazém, engarrafavam e vendiam vinhos de outros produtores. Os bisnetos adolescentes de Luigi ajudavam no plantio e na colheita da uva e houve quem pagou seus estudos de medicina vendendo uva nas estradas da Terra do Vinho.

Sabbatino se casaria com Rosa Pieroni, italiana da Garfagnana, que viera de Pieve Fosciana, cidade próxima a Careggine. Dessa união, nasceriam os filhos Alfredo, Rodolpho, José Vittorio, Arthur, Amélia, Pascoalina e Josephina (Bepa).
Julio Salvetti daria origem a outro tronco da família Salvetti. Dessa união nasceram os filhos Luís Leo e Júlio.
As filhas de Luigi e Carlota, Amélia e Isolina, já mencionadas anteriormente, casaram-se, respectivamente, com Pedro e Francisco Verani, pai e filho.

Unida por meio do matrimônio dos filhos a famílias de origem italiana e a outras que se tornaram tradicionais em São Roque, por longos anos do século 20 a família Salvetti influenciaria a vida social, política e o comércio da cidade.


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Um comentário:

  1. Conheci a dona Rosa mãe do Rodolfo Salvetti e que era casado com minha prima materna Yone Boccato. Me lembro da dona Rosa sempre com um sorriso atendia as pessoas no armazém da Casa Paratodos na rua Sete de Setembro, 107. Uma boníssima senhora e uma santa mulher.

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