Partire è un pó morire, dice l’adagio, ma è meglio partire che morire.”

(Carrara, na peça teatral Merica, Merica)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Os Italianos e as Festas de Agosto

Festas de Agosto 1957,  procissão do Padroeiro na Praça da Matriz*


A origem das Festas de Agosto, em homenagem ao padroeiro da cidade, remonta a meados do século 17, aos primórdios da fazenda que daria origem ao município de São Roque, cujo nome se deve à devoção do fundador – o bandeirante Pedro Vaz de Barros, português de nascimento – ao santo francês que é hoje aquele de maior devoção na comunidade católica da cidade. 

Esses festejos nasceram das comemorações realizadas na fazenda do fundador, que construiu sua casa e uma capela em devoção a São Roque. Porém, os registros sobre essas antigas festas coloniais em homenagem ao padroeiro são muito escassos.
Lançando um olhar para a evolução das Festas de Agosto no século 20, podemos constatar, no entanto, que esses festejos profano-religiosos de 16 de agosto tiveram grande participação da comunidade italiana, cuja religião de origem era a católica.

VIGÁRIOS

Em 1904, o vigário da cidade, Paulo Palermo, era italiano. Entre os vigários ou párocos de origem italiana, podemos citar vários que, nos anos seguintes, estiveram à frente da igreja católica em São Roque e nas Festas de Agosto: padres Luiz Rizzo, Antônio Pepe, Afonso Pozzi, Cícero Revoredo, Silvestri Murari, cônego Venerando Nalini, Luciano Túlio Grilli, Wilson A. Bertoletti, Ângelo Sgueglia, este vigário cooperador.

FESTEIROS

Entre 1904 e 1999, foram festeiros das Festas de Agosto – de São Roque e do Divino Espírito Santo – quando realizadas simultaneamente, diversos membros da colônia italiana: no início do século, os italianos de origem e depois, seus descendentes.
Estiveram à frente desses festejos em homenagem ao padroeiro, em ordem cronológica de participação, membros das famílias Vistarini, Mariano, Júdica, Casali, Pepe, Tagliassachi, Boccato, Guaragna, Lucca, Vianna, Alé, Zecchi, Leuzzi, Pesci, Conti, Bellini, Geribello, Cosentino, Brochini, Bonini, Guazzelli, Salvetti, Peroni, Verani, Cereda, Giusti, Capuzzo, Campi, Francheschi, Carlassara, Grillo, Cerioni, Tozzi, Laurenciano, Barioni, Boschini, Maraccini, Santucci, Pari, Scuoteguazza, Biazzi, Zandoná, Belmonte, Pocciotti, Murari, Foroni, Nastri, Rolim, Mariucci, Cherubini, Alegretti, Panzarini, Sabattini, Dadalti, Chiarato, Castelli, Bussolini, Mastrogiuseppe, Masetto, Marchi, Panzarini, Franchin, Caparelli. Aqui citados apenas uma vez os sobrenomes, embora em diversos anos, outros membros das mesmas famílias tenham se revezado na condição de festeiros.

Essa presença intensa da colônia italiana nos festejos do padroeiro, principalmente no início do século 20, quando os participantes eram os próprios imigrantes, mostra que esses italianos encontraram em São Roque um ambiente religioso parecido com aquele da Itália, com a onipresença de seus santos de devoção e as festas em homenagem a eles.

PROGRAMAÇÃO CULTURAL

Em 1904, a corporação musical Conte di Torino, depois batizada como banda Carlos Gomes, fundada por italianos, realizava um concerto na Praça da Matriz, no dia 16 de agosto, como faria por todo o século, nas festas que se seguiriam. Em 1909, constava da programação dos festejos profanos a apresentação de trechos de óperas italianas executados pela Conte di Torino.

Também nesse ano, durante os festejos, a companhia de Circo Temperani, de propriedade de italianos, fazia suas apresentações na cidade. Outras companhias circenses, também de origem italiana, como a Martinelli, apresentaram-se nos anos seguintes.

Sessões de cinema ao ar livre constavam das programações das festas, no início do século 20, realizadas pela firma de italianos Amosso & Bonini.
Em 1909, o festeiro Octavio Vistarini, inclui no programa as Cavalhadas, uma representação teatral da luta entre cristãos e maometanos. Ainda nos festejos profanos de agosto desse ano, houve a Grande Tômbola, jogo de origem italiana.

FOGOS DE ARTIFÍCIO

Os espetáculos de pirotecnia, precursores dos nossos fogos de artifício, faziam parte dos festejos em homenagem ao padroeiro desde o início do século 20. Na década de 1920 quando as procissões do padroeiro eram acompanhadas por cerca de 400 pessoas, número grande para a população local, o pirotécnico era também um membro da colônia italiana: Domingos Vernaglia.

Nessa época, o almoço para os participantes da Entrada dos Carros de Lenha – desfile tradicional de abertura das festas do padroeiro – era servido no Grande Hotel Bonini, de propriedade de italianos e as principais ruas da cidade, onde ocorriam os festejos, eram iluminadas a giorno, como afirmava matéria do semanário local, o Democrata, cujo articulista, literariamente, usou esse termo italiano que significa dia, para se referir a uma intensa iluminação.

Esses fatos mostram-nos pelo menos duas evidências: que, no início do século 20, num momento histórico bem próximo ao do início da imigração italiana em São Roque, as atividades profanas das Festas de Agosto tinham caráter cultural, incluindo até ópera. E que, tanto nesse aspecto quanto no da inclusão de novos costumes aos já existentes na programação das festas do padroeiro, está explícita a marcante influência da comunidade italiana.


Festejos de Agosto com quermesse em frente à igreja Matriz, década de 1920

* Fonte da imagem: III Centenário da Cidade de São Roque, 1957.


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2 comentários:

  1. Olá, achei muito interessante o seu blog e quero saber se existe algum meio de entrar em contato com você, preciso da ajuda de alguém de São Roque, para pesquisar sobre uma família que viveu aí... Desde já agradeço a atenção

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    1. Olá, Fernanda! Só agora vi sua mensagem. Pode me enviar um e-mail: silviamello@uol.com.br

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