Partitura para Trombone da Marcha Fúnebre de Giovanni Masetto (1914) |
Há cem anos a melodia foi registrada em forma de notas musicais, por mãos de artista, em bico de pena, sobre o papel pautado. Há cem anos, cada arranjo, cada detalhe da harmonia era estudado com talento de músico. Há cem anos nasciam as partituras destinadas à execução de uma melodia por instrumentos musicais que integravam uma banda. Há cem anos, um grupo de músicos, de posse de bombardinos, clarinetes, trombones, baixos e outros instrumentos dos quais a música transbordava, espalhavam sons pelas ruas da cidade. Há cem anos, uma Marcha Fúnebre foi criada para acompanhar a procissão da Sexta-Feira Santa.
No início do século vinte muitos
compositores criaram marchas fúnebres. Compor uma marcha fúnebre não era
exclusividade de um só músico, tampouco as marchas fúnebres nasceram para serem
tocadas por uma única banda. Mas esta Marcia
Funebre nasceu em São Roque. De autoria de Giovanni Masetto, as partituras
que testemunham essa criação artística datam de 24 de outubro de 1914. Elas
chegaram até nós porque as pessoas que se sucederam na direção da Corporação
Musical Liberdade conservaram todo o seu acervo de documentos e partituras,
desde a fundação dessa banda, em 1896.
O
músico, um imigrante italiano
Maestro de banda musical na Itália,
Giovanni Masetto chegou ao Brasil na última década do século 19, provavelmente,
acompanhado de outros familiares, além da esposa e dos filhos. Seu destino era o Paraná. Quando a
tecelagem Enrico Dell’Acqua e Cia. instalou-se em São Roque, em 1890, criando
no município a colônia italiana, composta por famílias de imigrantes, trazidas
para o trabalho operário, a ideia de se fundar uma corporação musical integrada
por músicos dessas famílias italianas foi amadurecendo. A própria direção da
fábrica de tecidos, depois chamada Brasital (junção das palavras Brasil e
Itália), incentivou a formação da Corporazione
Musicale Conte di Torino, depois batizada de Carlos Gomes. Em 1897, nascia
a “Banda Italiana”, e com ela outros imigrantes italianos, músicos, a convite
da direção da tecelagem, vieram trabalhar em São Roque para que pudessem também
integrar a corporação musical, aqui manifestar seu talento e encantar com a
música, as noites nos coretos das praças, e as festas populares e religiosas,
como era costume na Itália. Assim, Giovanni Masetto mudou-se para São Roque, com a família.
Giovanni Masetto em foto da chegada ao Brasil, como imigrante italiano |
Acervo da Banda Liberdade
Se a rivalidade entre as três
corporações musicais de São Roque, 7 de Setembro, Carlos Gomes e Liberdade, foi
testemunhada por todos que conviveram com seus músicos após meados do século
20, não parece ter sido assim no início dessas bandas, quando os músicos de
então, circulavam entre elas, em caráter de colaboração.
E prova disso é o acervo de milhares de
partituras redescoberto no mês de Agosto de 2014, após o início do Projeto de
Preservação do Acervo da Corporação Musical Liberdade, pós nós idealizado junto
à diretoria dessa banda, que revela a figura do “copista”, aquele que
reproduzia as partituras de uma melodia para diversos instrumentos, e a autoria
de peças musicais assinadas por são-roquenses e artistas que viviam em São
Roque. E foi em meio à higienização, quantificação e o início da organização do
acervo da Banda Liberdade, composto por partituras, instrumentos musicais,
fotografias, documentos e móveis, que ressurgiram as partituras da Marcia Funebre de Giovanni Masetto.
Patrimonio Imaterial
Se existem as músicas Dolore e Cipresso, tradicionalmente tocadas na procissão católica de Cristo
Morto, em São Roque, de autoria atribuída a Achille
Badessi, também imigrante italiano e operário da Brasital, no início do
século 20, cujo conjunto de partituras, igualmente integra o acervo da Banda
Liberdade, da mesma forma manifesta-se como criação originária da cidade, a Marcia Funebre de autoria de Giovanni
Masetto. Ambas serão registradas como patrimônio imaterial da cidade de São
Roque, na categoria “expressões artísticas”, pelo Conpreha – Conselho Municipal
de Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico de São Roque.
O conjunto de 11 partituras de autoria
de Giovanni Masetto, destinadas à
interpretação da sua Marcia Funebre
por músicos que tocavam instrumentos como geni
(1º. e 2º.), 1º. clarinete, 1º. piston, trombone (di canto, 1º., 2º. e 3º.) e 1º bombardino, baixo Mi b, segundo
registros nas próprias partituras, mostra em algumas delas, uma orientação para
Luigi Masetto, seu filho, também músico, entremeada pela data em que a
partitura foi escrita, que não se sabe se é a mesma em que a música foi criada.
Essa inscrição diz, em italiano: poi dacapo la prima parte 24-10-2014 ponto
de Luiz Masetto (depois de terminada a primeira parte, ponto de Luiz
Masetto), parecendo que o registro da instrução ao músico foi feito depois de
colocada a data, pois ela está no meio da frase.
Comemoração
Em comemoração ao centenário das
partituras da Marcia Funebre de
Giovanni Masetto, o Conpreha convidou o músico Toledo para interpretar a música
no hall de entrada da Câmara da Estância Turística de São Roque, como parte da
programação da 1.a Semana de Conscientização e Preservação do Patrimônio
Histórico, Natural e Cultural na Estância Turística de São Roque, que acontece
de 3 a 8 de Novembro de 2014, durante evento que abordará os Centros de Memória em São Roque (5 de Novembro, das 9 às 17 horas).
Comemorar os 100 anos das partituras de
Giovanni Masetto é sem dúvida ressaltar uma parte importante da história e
cultura da cidade de São Roque, que merece imensamente ser preservada.
Giovanni Masetto, ao centro, rodeado dos filhos, em São Roque (1925) |
Agradecimento especial à Gema Masetto Alonso, neta de Giovanni Masetto, que nos cedeu as fotos de família para esta matéria, assim como nos deu entrevista para a matéria sobre a família Masetto, que integrará o livro Andiamo...
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Proibida cópia e reprodução de textos e imagens em qualquer meio
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